24.3.09

Porque

Sophia de Mello Breyner Andresen

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

3 comentários:

gloria disse...

Paulo, essa forma de viver sob a ponta dos pés, varando precipícios, minha alma conhece. Um senso de cuidado me recolhe no momento exato em que uma vertigem me parece fazer traspassar a linha tênue onde a vista escurece. lindo poema, não conhecia. bjs, (cadê a Joana?)

Ana Paola Amorim disse...

Uma (bela) homenagem aos equilibristas. Estamos bem acompanhados, salve!

Um abraço,
Ana

Joanna disse...

nossa,
...
mas isso me deixou em silencio um tempo bom, viu...

vocês são demais!
beijos