voltei da loja de livros meio torta de um lado. quanto mais me aproximo deles, mais vai ficando nítido o quanto a relação das pessoas com os livros é singular. não particular. eu disse singular. e não digo da escolha que é mais obvia, mas o modo como cada um se relaciona, toca, descobre, experimenta o livro.. muito doido como quando atentos a gente percebe a dimensão da solidão mais corriqueira. tão clara quanto fora de foco.
olha o que achei nas linhas - pra lá do meio - de um dos livros que acabo de trazer da loja:
"Fora-do-tempo
Os flocos giram ao redor do globo.
Diante dos olhos da minha memória, em cima da escrivaninha de Mademoiselle, minha professora até a classe dos maiores, a do sr. Servant, se materializa a pequena bola de vidro. Quando nos comportávamos bem, tínhamos o direito de virá-la e segura-la na palma da mão até a queda do último floco ao pé da torre Eiffel cromada. Eu não tinha sete anos e já sabia que a lenta melopéia das pequenas partículas algodoadas prefigura o que ressente o coração durante uma grande alegria. A duração desacelera e se dilata, o balé se eterniza na ausência de choques e, quando o último floco pousa, sabemos que vivemos esse fora-do-tempo que é a marca das grandes iluminações. Em criança, volta e meia eu me perguntava se me seria dado viver instantes semelhantes mantendo-me no centro do lento e majestoso balé dos flocos, quando era arrancada do sombrio frenesi do tempo.
Será isso sentir-se nua? ..."
(do livro A elegância do ouriço, da escritora francesa chamada Muriel Barbery, nascida em 1969.)
Simone, que trabalha na Ouvidor da Savassi e é uma graça de pessoa, me disse sentir que pela primeira vez - (que olhasse bem), ela estava com 46 anos - poderá acompanhar a trajetória de uma escritora contemporânea arrebatadora. Disse que Duras e Clarice não contavam. Não estão neste tempo. Disse das personagens, da escrita, de algo que as mulheres precisassem ler.
parecia mesmo encantada.
Obediente que sou destas orientações, aqui estou diante da Elegância do ouriço.
na loja entrei mesmo pra comprar outros dois:
Leite derramado (o novo livro do Chico Buarque) e A alma encantadora das ruas (do João do Rio).
parece bom, não?
=)
olha o que achei nas linhas - pra lá do meio - de um dos livros que acabo de trazer da loja:
"Fora-do-tempo
Os flocos giram ao redor do globo.
Diante dos olhos da minha memória, em cima da escrivaninha de Mademoiselle, minha professora até a classe dos maiores, a do sr. Servant, se materializa a pequena bola de vidro. Quando nos comportávamos bem, tínhamos o direito de virá-la e segura-la na palma da mão até a queda do último floco ao pé da torre Eiffel cromada. Eu não tinha sete anos e já sabia que a lenta melopéia das pequenas partículas algodoadas prefigura o que ressente o coração durante uma grande alegria. A duração desacelera e se dilata, o balé se eterniza na ausência de choques e, quando o último floco pousa, sabemos que vivemos esse fora-do-tempo que é a marca das grandes iluminações. Em criança, volta e meia eu me perguntava se me seria dado viver instantes semelhantes mantendo-me no centro do lento e majestoso balé dos flocos, quando era arrancada do sombrio frenesi do tempo.
Será isso sentir-se nua? ..."
(do livro A elegância do ouriço, da escritora francesa chamada Muriel Barbery, nascida em 1969.)
Simone, que trabalha na Ouvidor da Savassi e é uma graça de pessoa, me disse sentir que pela primeira vez - (que olhasse bem), ela estava com 46 anos - poderá acompanhar a trajetória de uma escritora contemporânea arrebatadora. Disse que Duras e Clarice não contavam. Não estão neste tempo. Disse das personagens, da escrita, de algo que as mulheres precisassem ler.
parecia mesmo encantada.
Obediente que sou destas orientações, aqui estou diante da Elegância do ouriço.
na loja entrei mesmo pra comprar outros dois:
Leite derramado (o novo livro do Chico Buarque) e A alma encantadora das ruas (do João do Rio).
parece bom, não?
=)