26.8.10

"Sinto em mim que há tantas coisas sobre o que escrever. Por que não? O que me impede? A exiguidade do tema, talvez, que faria com que este se esgotasse em uma linha. As vezes é o horror de tocar numa palavra que desencadearia milhares de outras, não desejadas, estas. No entanto, o impulso de escrever. O impulso puro - mesmo sem tema. Como se eu tivesse a tela, os pincéis e as cores - e me faltasse o grito de libertação, ou a mudez essencial que é necessária para que se digam certas coisas."

Clarice Lispector
"Mas já que se há de escrever, que ao menos não esmaguem as palavras nas entrelinhas"

Clarice Lispector

25.8.10

Tempo Perdido

"Todos os dias quando acordo
Não tenho mais
O tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo...

Todos os dias
Antes de dormir
Lembro e esqueço
Como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder...

Nosso suor sagrado
É bem mais belo
Que esse sangue amargo
E tão sério
E Selvagem! Selvagem!
Selvagem!...

Veja o sol
Dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega
É da cor dos teus olhos
Castanhos...

Então me abraça forte
E diz mais uma vez
Que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo
Temos nosso próprio tempo...

Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes
Acesas agora
O que foi escondido
É o que se escondeu
E o que foi prometido
Ninguém prometeu
Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens...

Tão Jovens! Tão Jovens!..."

Renato Russo
Mercearia Paraopeba

dica da Mami
:)

23.8.10

"Todos os dias, quando acordo, vou correndo tirar a poeira da palavra amor..."
Clarice Lispector
"As sem-razões do amor

Eu te amo porque te amo,
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor."

Carlos Drummond de Andrade
"O Que Você Quer Saber De Verdade

Vai sem direção
Vai ser livre
A tristeza não
Não resiste
Jogue seus cabelos no vento
Não olhe pra trás
Ouça o barulhinho que o tempo
No seu peito faz
Faça sua dor dançar
Atenção para escutar
Esse movimento que traz paz
Cada folha que cair
Cada nuvem que passar
Deixa a terra respirar
Pelas portas e janelas das casas
Atenção para escutar
O que você quer saber de verdade"

Arnaldo Antunes
"nós esquecemos como ficar preparados para que mesmo os milagres aconteçam."
Christa Wolf
"Não, não é fácil ser a gente mesmo da cabeça aos pés, da unha do dedo mindinho até o último fio de cabelo."
Caio Fernando Abreu

20.8.10

"A lucidez perigosa


Estou sentindo uma clareza tão grande

que me anula como pessoa atual e comum:

é uma lucidez vazia, como explicar?

Assim como um cálculo matemático perfeito

do qual, no entanto, não se precise.

Estou por assim dizer

vendo claramente o vazio.

E nem entendo aquilo que entendo:

pois estou infinitamente maior que eu mesma,

e não me alcanço.

Além do que:

que faço dessa lucidez?

Sei também que esta minha lucidez

pode-se tornar o inferno humano

- já me aconteceu antes.

Pois sei que

- em termos de nossa diária

e permanente acomodação

resignada à irrealidade -

essa clareza de realidade

é um risco.

Apagai, pois, minha flama, Deus,

porque ela não me serve para viver os dias.

Ajudai-me a de novo consistir

dos modos possíveis.

Eu consisto,

eu consisto,

amém."

Clarice Lispector

19.8.10

"E sobretudo procurar não entender.

Porque quem entende desorganiza."

clarice lispector

15.8.10

"Todo amor que houver nessa vida

Eu quero a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida,
nós na batida, no embalo da rede, matando a sede na saliva.
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
e algum trocado pra dar garantia.

E ser artista no nosso convívio, pelo inferno e céu de todo dia,
pra poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia.
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
e algum veneno anti-monotonia.

E se eu achar a tua fonte escondida, te alcanço em cheio o mel e a ferida. E o corpo inteiro feito um furacão: boca, nuca, mão e a tua mente não.
Ser teu pão, ser tua comida, todo amor que houver nessa vida
e algum remédio que me dê alegria."

Cazuza
(video)

9.8.10

"Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade caça jeito."

Manoel de Barros

5.8.10

"Nem brisa, nem gente, interrompe o que não penso"

Pessoa
e abro o livro e o Pessoa:

"Ah, todo o cais é uma saudade de pedra!"

3.8.10

CAIS
Milton Nascimento

Para quem quer se soltar
invento o cais
invento mais
que a solidão me dá
invento lua nova a clarear

invento o amor e sei a dor de encontrar

eu queria ser feliz
invento o mar
invento em mim
o sonhador

Para quem quer me seguir
eu quero mais
tenho o caminho do que sempre quis
e um saveiro pronto pra partir
invento um cais
e sei a vez de me lançar"

com a elis na gravação do Ensaio
que marca minha vida desde sempre
agora ganha outro valor
outra cor
outro sentido
infinitamente mais bonito
que aquele da infância
"É por isso que ela quer tão desesperadamente ter em casa esse embrulho de diários e cartas.
Evidentemente, sabe que existe também nos diários uma porção de coisas desagradáveis, dias de insatisfação, de brigas e até mesmo de tédio, mas não se trata disso absolutamente. Ela não quer devolver ao passado sua poesia. Quer lhe devolver seu corpo perdido. O que a impele não é um desejo de beleza.É um desejo de vida.
Pois Tamina está à deriva numa jangada e olha para trás, somente para trás. O volume do seu ser não é senão aquilo que ela vê lá longe, atrás dela. Assim como seu passado se contrai, se desfaz, se dissolve, Tamina encolhe e perde seus contornos.
Ela quer ter esses diários para que a frágil estrutura dos acontecimentos, tal como a construiu em seu diário, possa receber paredes e tornar-se a casa onde ela poderá morar. Porque,se o edifício vacilante das lembranças cai como uma tenda mal levantada, não vai sobrar nada de Tamina a não ser o presente, esse ponto invisível, esse nada que avança lentamente em direção à morte."

O livro do riso e do esquecimento- Milan Kundera
estava aqui e encontrei em plena ilha grande
Atormenta na ilha
a presença oculta dos piratas

Tantas são
com reentrâncias mil
as ilhas

Teriam sido suas mulheres
assim como os contornos de terra
sugerem?

Ainda hoje
ve-se
ali
a descendencia de outros mares

todos

e nenhum