12.7.10

"Sampa, 11.8.78

Querida mãe, tô sem tempo pruma carta. Mas tá tudo bem. Comecei hoje a fazer psicodrama, tô contente. Olhe, por favor, não se preocupe com o $$$. Mesmo. Tá tudo bem. Tô feliz com os 30: acho que fiz tudo do jeito melhor, meio torto, talvez, mas tenho tentado da maneira mais bonita que sei. Até uma carta, vai outro poema daquela mineira, a Adélia Prado, que eu já tinha mandado um pra senhora. Pense nele quando a senora tiver muitos problemas. E se poupe.

Ensinamento
Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
'coitado, até essa hora no serviço pesado'.
Arrumou pão e café, deixou o tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.

Terminei a peça teatral que eu vinha escrevendo há dois anos. Chama-se Zona contaminada. Voltei a escrever! Não vou parar nunca, por mais inútil que seja (e talvez não seja). Beijos pra todos. Seu filho e amigo

Caio

ps - Mudou o número do telefone daqui: 64-76-54"

Caio Fernando Abreu
um doce.

Um comentário:

Gui disse...

Nu! Lindo.