30.9.09

"mudança

o que muda na mudança,
se tudo em volta é uma dança
no trajeto da esperança,
junto ao que nunca se alcança?"

Drummond
dilema

como saber
se a acetona vai dar?

nosssaaaa, chegar no fim do dia com aquela lasca do esmalte vermelho saindo e pensar que será aquela a noite que dará uma tregua pra pobre coitada da unha que até doi de saudade do esmalte - uma especie de abstinencia. sim, ela vai respirar.
e é então que se depara com aquele restinho - gente restiiiinho - de removedor (acetona é demodèe) no fundinho do vidro

e o restinho é tão restinho que a pergunta se irrompe
pra que guardá-lo?

o salto alto fica, então, irremedialmente capenga
"Chega de tentar dissimular e disfarçar e esconder
O que não dá mais pra ocultar e eu não quero mais calar
Já que o brilho desse olhar foi traidor
E entregou o que você tentou conter
O que você não quis desabafar

Chega de temer, chorar, sofrer, sorrir, se dar
E se perder e se achar e tudo aquilo que é viver
Eu quero mais é me abrir e que essa vida entre assim
Como se fosse o sol desvirginando a madrugada
Quero sentir a dor desta manhã

Nascendo, rompendo, rasgando, tomando, meu corpo e então eu
Chorando, sorrindo, sofrendo, adorando, gritando
Feito louca, alucinada e criança
Eu quero o meu amor se derramando
Não dá mais pra segurar, explode coração..."

Explode coração
Gonzaguinha

29.9.09

"Toda descoberta é feita mais de uma vez, e nenhuma se faz de uma só vez."

Freud, 1916

28.9.09

amei

amei o festival, amei um pouco mais viver em bh, amei o Benny Goodman Centennial Band, amei a Judy Carmichael, amei de paixão The New Orleans Joy Makers!

A chatice e monotonia do ritmo alegrinho do Swiss College Dixie Band não vou comentar não.
monotonia na alegria pode parecer discrepante, mas nem é.
a alegria inequivoca e constante me incomoda. Em musica então, putz...
ou, como o festival me ensinou, não gosto de Dixieland.

Mas não vou comentar, porque amei!
:)



E este fim de semana, dias 3 e 4, tem Festival Outro Rock, na Praça da Savassi, também de graça!!
Ai,ai, esta cidade...!

E ainda
Amanhã a Orquestra Filarmonica de Minas toca no Palácio das Artes, com Fabio Zanon no violão

27.9.09

os muito delicados que me perdoem


"Perdoando Deus

Eu ia andando pela Avenida Copacabana e olhava distraída edifícios, nesga de mar, pessoas, sem pensar em nada. Ainda não percebera que na verdade não estava distraída, estava era de uma atenção sem esforço, estava sendo uma coisa muito rara: livre. Via tudo, e à toa. Pouco a pouco é que fui percebendo que estava percebendo as coisas. Minha liberdade então se intensificou um pouco mais, sem deixar de ser liberdade.

Tive então um sentimento de que nunca ouvi falar. Por puro carinho, eu me senti a mãe de Deus, que era a Terra, o mundo. Por puro carinho mesmo, sem nenhuma prepotência ou glória, sem o menor senso de superioridade ou igualdade, eu era por carinho a mãe do que existe. Soube também que se tudo isso “fosse mesmo” o que eu sentia – e não possivelmente um equívoco de sentimento – que Deus sem nenhum orgulho e nenhuma pequenez se deixaria acarinhar, e sem nenhum compromisso comigo. Ser-Lhe-ia aceitável a intimidade com que eu fazia carinho. O sentimento era novo para mim, mas muito certo, e não ocorrera antes apenas porque não tinha podido ser. Sei que se ama ao que é Deus. Com amor grave, amor solene, respeito, medo e reverência. Mas nunca tinham me falado de carinho maternal por Ele. E assim como meu carinho por um filho não o reduz, até o alarga, assim ser mãe do mundo era o meu amor apenas livre.

E foi quando quase pisei num enorme rato morto. Em menos de um segundo estava eu eriçada pelo terror de viver, em menos de um segundo estilhaçava-me toda em pânico, e controlava como podia o meu mais profundo grito. Quase correndo de medo, cega entre as pessoas, terminei no outro quarteirão encostada a um poste, cerrando violentamente os olhos, que não queriam mais ver. Mas a imagem colava-se às pálpebras: um grande rato ruivo, de cauda enorme, com os pés esmagados, e morto, quieto, ruivo. O meu medo desmesurado de ratos.

Toda trêmula, consegui continuar a viver. Toda perplexa continuei a andar, com a boca infantilizada pela surpresa. Tentei cortar a conexão entre os dois fatos: o que eu sentira minutos antes e o rato. Mas era inútil. Pelo menos a contigüidade ligava-os. Os dois fatos tinham ilogicamente um nexo. Espantava-me que um rato tivesse sido o meu contraponto. E a revolta de súbito me tomou: então não podia eu me entregar desprevenida ao amor? De que estava Deus querendo me lembrar? Não sou pessoa que precise ser lembrada de que dentro de tudo há o sangue. Não só não esqueço o sangue de dentro como eu o admiro e o quero, sou demais o sangue para esquecer o sangue, e para mim a palavra espiritual não tem sentido, e nem a palavra terrena tem sentido. Não era preciso ter jogado na minha cara tão nua um rato. Não naquele instante. Bem poderia ter sido levado em conta o pavor que desde pequena me alucina e persegue, os ratos já riram de mim, no passado do mundo os ratos já me devoraram com pressa e raiva. Então era assim?, eu andando pelo mundo sem pedir nada, sem precisar de nada, amando de puro amor inocente, e Deus a me mostrar o seu rato? A grosseria de Deus me feria e insultava-me. Deus era bruto. Andando com o coração fechado, minha decepção era tão inconsolável como só em criança fui decepcionada. Continuei andando, procurava esquecer. Mas só me ocorria a vingança. Mas que vingança poderia eu contra um Deus Todo-Poderoso, contra um Deus que até com um rato esmagado poderia me esmagar? Minha vulnerabilidade de criatura só. Na minha vontade de vingança nem ao menos eu podia encará-Lo, pois eu não sabia onde é que Ele mais estava, qual seria a coisa onde Ele mais estava e que eu, olhando com raiva essa coisa, eu O visse? no rato? naquela janela? nas pedras do chão? Em mim é que Ele não estava mais. Em mim é que eu não O via mais.

Então a vingança dos fracos me ocorreu: ah, é assim? pois então não guardarei segredo, e vou contar. Sei que é ignóbil ter entrado na intimidade de Alguém, e depois contar os segredos, mas vou contar – não conte, só por carinho não conte, guarde para você mesma as vergonhas Dele – mas vou contar, sim, vou espalhar isso que me aconteceu, dessa vez não vai ficar por isso mesmo, vou contar o que Ele fez, vou estragar a Sua reputação.

… mas quem sabe, foi porque o mundo também é rato, e eu tinha pensado que já estava pronta para o rato também. Porque eu me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É porque no fundo eu quero amar o que eu amaria – e não o que é. É porque ainda não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade, pois sou muito teimosa. É porque sou muito possessiva e então me foi perguntado com alguma ironia se eu também queria o rato para mim. É porque só poderei ser mãe das coisas quando puder pegar um rato na mão. Sei que nunca poderei pegar num rato sem morrer de minha pior morte. Então, pois, que eu use o magnificat que entoa às cegas sobre o que não se sabe nem vê. E que eu use o formalismo que me afasta. Porque o formalismo não tem ferido a minha simplicidade, e sim o meu orgulho, pois é pelo orgulho de ter nascido que me sinto tão íntima do mundo, mas este mundo que eu ainda extraí de mim de um grito mudo. Porque o rato existe tanto quanto eu, e talvez nem eu nem o rato sejamos para ser vistos por nós mesmos, a distância nos iguala. Talvez eu tenha que aceitar antes de mais nada esta minha natureza que quer a morte de um rato. Talvez eu me ache delicada demais apenas porque não cometi os meus crimes. Só porque contive os meus crimes, eu me acho de amor inocente. Talvez eu não possa olhar o rato enquanto não olhar sem lividez esta minha alma que é apenas contida. Talvez eu tenha que chamar de “mundo” esse meu modo de ser um pouco de tudo. Como posso amar a grandeza do mundo se não posso amar o tamanho de minha natureza? Enquanto eu imaginar que “Deus” é bom só porque eu sou ruim, não estarei amando a nada: será apenas o meu modo de me acusar. Eu, que sem nem ao menos ter me percorrido toda, já escolhi amar o meu contrário, e ao meu contrário quero chamar de Deus. Eu, que jamais me habituarei a mim, estava querendo que o mundo não me escandalizasse. Porque eu, que de mim só consegui foi me submeter a mim mesma, pois sou tão mais inexorável do que eu, eu estava querendo me compensar de mim mesma com uma terra menos violenta que eu. Porque enquanto eu amar a um Deus só porque não me quero, serei um dado marcado, e o jogo de minha vida maior não se fará. Enquanto eu inventar Deus, Ele não existe."

Clarice Lispector
Felicidade Clandestina

22.9.09

'Something
The Beatles
Composição: George Harrison

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

Somewhere in her smile she knows
That I don't need no other lover
Something in her style that shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

You're asking me will my love grow
I don't know, I don't know
You stick around now it may show
I don't know, I don't know

Something in the way she knows
And all I have to do is think of her
Something in the things she shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how'


minha homenagem aos 40 anos do abbey road
(não consegui postar o clipe, mas quem não conhece, vale conferir aqui)

20.9.09

"Miedo
Lenine
Composição: Pedro Guerra/Lenine/Robney Assis

Tienen miedo del amor y no saber amar
Tienen miedo de la sombra y miedo de la luz
Tienen miedo de pedir y miedo de callar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tienen miedo de subir y miedo de bajar
Tienen miedo de la noche y miedo del azul
Tienen miedo de escupir y miedo de aguantar
Miedo que da miedo del miedo que da

El miedo es una sombra que el temor no esquiva
El miedo es una trampa que atrapó al amor
El miedo es la palanca que apagó la vida
El miedo es una grieta que agrandó el dolor

Tenho medo de gente e de solidão
Tenho medo da vida e medo de morrer
Tenho medo de ficar e medo de escapulir
Medo que dá medo do medo que dá

Tenho medo de acender e medo de apagar
Tenho medo de esperar e medo de partir
Tenho medo de correr e medo de cair
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma linha que separa o mundo
O medo é uma casa aonde ninguém vai
O medo é como um laço que se aperta em nós
O medo é uma força que não me deixa andar

Tienen miedo de reir y miedo de llorar
Tienen miedo de encontrarse y miedo de no ser
Tienen miedo de decir y miedo de escuchar
Miedo que da miedo del miedo que da

Tenho medo de parar e medo de avançar
Tenho medo de amarrar e medo de quebrar
Tenho medo de exigir e medo de deixar
Medo que dá medo do medo que dá

O medo é uma sombra que o temor não desvia
O medo é uma armadilha que pegou o amor
O medo é uma chave, que apagou a vida
O medo é uma brecha que fez crescer a dor

El miedo es una raya que separa el mundo
El miedo es una casa donde nadie va
El miedo es como un lazo que se apierta en nudo
El miedo es una fuerza que me impide andar

Medo de olhar no fundo
Medo de dobrar a esquina
Medo de ficar no escuro
De passar em branco, de cruzar a linha
Medo de se achar sozinho
De perder a rédea, a pose e o prumo
Medo de pedir arrego, medo de vagar sem rumo

Medo estampado na cara ou escondido no porão
O medo circulando nas veias
Ou em rota de colisão
O medo é do Deus ou do demo
É ordem ou é confusão
O medo é medonho, o medo domina
O medo é a medida da indecisão

Medo de fechar a cara
Medo de encarar
Medo de calar a boca
Medo de escutar
Medo de passar a perna
Medo de cair
Medo de fazer de conta
Medo de dormir
Medo de se arrepender
Medo de deixar por fazer
Medo de se amargurar pelo que não se fez
Medo de perder a vez

Medo de fugir da raia na hora H
Medo de morrer na praia depois de beber o mar
Medo... que dá medo do medo que dá
Medo... que dá medo do medo que dá"

Radio ainda me fascina. Sempre gostei da surpresa, da contingência. A itapema acaba de me apresentar esta musica e de me dar provas de que ainda acontece. A gente pensa coisas e de repente, como num passe de mágica uma musica se encaixa, pinta no rádio. Basta escolher uma rádio 'a-ver'.
não to doida. rsrsrs

e não entendo pessoas que não tem trilha sonora acompanhando a vida, que não ligam pra musica, ou não se deixam tocar
olha que maravilha

"Há doenças piores que as doenças,
Há dores que não doem, nem na alma
Mas que são dolorosas mais que as outras.
Há angústias sonhadas mais reais
Que as que a vida nos traz, há sensações
Sentidas só com imaginá-las
Que são mais nossas do que a própria vida.
Há tanta coisa que, sem existir,
Existe, existe demoradamente,
E demoradamente é nossa e nós...
Por sobre o verde turvo do amplo rio
Os circunflexos brancos das gaivotas...
Por sobre a alma o adejar inútil
Do que não foi, nem pôde ser, e é tudo.

Dá-me mais vinho, porque a vida é nada.

Fernando Pessoa"

quem ainda não foi, está perdendo o que ela acha. quem vai sempre, de uma espiada nas belezas que a dri tem encontrado.
afinidade é uma graça
=)

19.9.09

"Seria incoerente que me opusesse a que um escritor coma do que escreve, o que me parece, isso sim, condenável, é que escreva quando não tem nada para dizer

"A alegoria chega quando descrever a realidade já não nos serve. Os escritores e artistas trabalham nas trevas e, como cegos, tacteiam na escuridão"
Saramago*

*ao que aqui indica
"Os ombros suportam o mundo

Os ombros suportam o mundo
Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação"

Carlos Drummond de Andrade

7.9.09






adoro!
no site oficial do artista, alexandre orion

6.9.09

e o freak show no fantastico?!?!
katia, biafra, silvinho blau-blau, odair jose e dalto juntos no palco
jesus!
guia de quem?

eu que tenho encontrado perolas malignas na tv a cabo, preciso dizer que quem quiser conhecer o cara mais chato e pedante do mun-do, é só assistir ao programa "o guia"
, no national geographic channel'.
ele consegue ser pior que bruno de luca, do 'vai pra onde' (multishow).
o primeiro se nomeia um primoroso critico gastronomico. pfffffffff
cara mais arrogante
e sabe como ele comenta as coisas? mm, maciinha a carne. é, não tem muito tempero não. tá bom, gostei.
Isso ele no restaurante mais incrivel da turquia, com comidas maravilhosas e uma historia sem igual. pratos que foram decritos há mais de 300 anos por pessoas que estiveram em uma cerimonia em homenagem a circuncisão de alguém super importante. Elas tiveram o cuidado de registrar os detalhes. a forma dos pratos (incrivelmente lindos, decoradinhos e coloridos - ultra apetitosos). anotaram ingredientes, sua sequencia. e disposição no prato.
meu deus!!!! fiquei louca, suuuuper a fim de ir a este lugar.

supreendentes são os guias locais destes programas. conseguem acessar os lugares mais incriveis e o programa entra onde for. Além disso, experimentam coisas na rua.
infelizmente essas coisas ainda me fazem assistir a estes tipinhos.
quando puder ir passear bastante
largo mão desse povo
tem uma coisa que me incomoda profundamente
como estamos mal representados pelos dois que cito aí. fico passando mal assistindo a eles. de novo, perceberam? hahaah

jamie oliver pra salvar a tv!
e claude troigros!!!

sou apaixonada por estes dois, pelo entusiasmo de ambos.
este encontro foi incrivel!
não posso deixar de lembrar a simpatia e eficiencia da deise, no lugar do (mais um) chato do Renato machado. ela faz uns drinks, indica cerveja, se preocupa com preço, comenta, faz suco. uma graça, mais gentecomoagente.

tramas da tv

5.9.09

eu que adoro esta historia de foco, achei bem legal isso aqui:

"O dentro, o fora e os fundos falsos

Dizíamos que o “campo visual”, enquanto resultado do enquadramento, define aquilo que é e aquilo que não é visto pela câmera. Define também, como conseqüência imediata, aquilo que o espectador vê ou não. Ao menos em parte, podemos dizer que o encantamento que as imagens em movimento nos causam provém desse jogo de ocultamentos e visibilidades – somos conduzidos por aquilo que vemos e seduzidos pelo que ainda não nos foi dado ver."
Por João Dumans, no site do projeto 'Imagem Pensamento' - que vale muito a pena acompanhar.

4.9.09

Estamos apaixonados pelo documentário sobre o Nelson Freire, feito pelo João Moreira Salles

Lendo alguns comentários e entrevistas, encontrei estes trechos, que achei legal compartilhar

"Carol Ferreira - Nelson Freire é um documentário sobre um tímido e o caráter reservado do pianista é preservado ao longo de todo o filme. Como essa característica de Freire interferiu no resultado final do documentário?

JMS - Acho que não conseguiria fazer diferente. Qualquer câmera invasiva, qualquer desejo de contar e de revelar tudo, poria em risco o filme. Nelson diria não. Além disso, acho que um documentário investigativo trairia minha idéia central, que (pelo menos para mim) é a do elogio do recato e da privacidade. Acho esses valores importantes. Gosto da idéia de tentar defendê-los - sem militância, suavemente - mas defendê-los assim mesmo. O documentário tem a personalidade do Nelson. Foi ele que nos deu essa delicadeza, essa falta de brutalidade. (fonte)

Encontrei este comentário, feito pelo José Miguel Wisnik, na Ilustrada, anos atrás.
Deixo guardados aqui uns trechinhos:

", para quem vê o documentário, essa afirmação se revela ao mesmo tempo inepta. Porque, por obra e graça seja de um temperamento visceralmente reservado, seja daquela misteriosa discrição profunda que acompanha tantas vezes a universalidade mineira, seja de uma comovente adesão à música em si mesma, despida de exterioridade, Nelson Freire se coloca fora dessa mensuração."

", Nelson Freire obteve trânsito mundial, reputação crítica seleta, adeptos e devotos em muitas partes, sem alcançar no entanto a evidência que poderíamos considerar-lhe devida. Num exemplo flagrante de sua ambígua presença ausente, o crítico John Ardoin, que o apresenta na consagradora coleção de CDs "Great Pianists of the 20th Century", começa dizendo que "Nelson Freire é talvez um dos segredos mais bem guardados do mundo do piano". Na sequência, faz uma afirmação que coincide com a minha impressão: "No entanto ele pode igualar qualquer façanha técnica de não importa que pianista que eu conheça, (...) habitualmente com justeza, beleza de som, desenvoltura e musicalidade maiores."

1.9.09

"Estou tão ampla. Sou coerente: meu cantico é profundo. Devagar. Mas crescendo. Estácrescendo mais ainda. Se crescer muito vira lua cheia e silêncio, e fantasmagórico chão lunar. À espreita do tempo que pára."

Clarice Lispector no Água viva
tava pensando, talvez seja meu livro favorito.
isso me assustou um pouco