30.7.08

last.fm... (ou leste.fm)

Encontramos uma rede deliciosa de rádios pessoais e transferíveis.

A onda é a compatibilidade.

Eis nosso convite: http://www.lastfm.com.br/home

E vejam a nossa: http://www.lastfm.com.br/user/GuiJo

Gui e Jô

27.7.08

Tô só

"Vamo brincá de ficá bestando e fazê um cafuné no outro e sonhá que a gente enricô e fomos todos mora nos Alpes Suiços e tamo lá só enchendo a cara e só zoiando? Vamo brincá que o Brasil deu certo e que todo mundo tá mijando a céu aberto, num festival de povão e dotô? VAmo brinca que a peste passô, que o HIV foi bombardeado com beagacês, e que tá todo mundo de novo namorando? Vamo brincá de morrê, porque a gente não morre mais e tamo sentindo saudade até de adoecê? E há escola e comida pra todos e há dentes na boca das gentes e dentes a mais, até nos pentes? E que os humanos não comem mais animais, e há leões lambendo os pés dos bebês e leoas babás? E que a alma é de uma terceira matéria, uma quântica quimera, e alguém lá no céu descobriu que a gente não vai mais pro beleléu? E que não há mais carros, só asas e barcos, e que a poesia viceja e grassa grama (como diz o abade), e é porreta ser poeta no Planeta? Vamo brincá

de teta
de azul
de berimbau
de doutora em letras?

E de luar?Que é aquilode vestir um véu todo irisado e rodar, rodar...

Vamo brincá de pinel? Que é isso de ficá loco e cortá a garganta dos otro?
Vamo brincá de ninho? E de poesia de amor?

nave
ave
moinho
e tudo mais serei
para que seja leve
meu passo
em vosso caminho*

Vamo brincá de autista? Que é isso de se fechá no mundão de gente e nunca mais ser cronista? Bom-dia, leitor. Tô brincando de ilha."

Hilda Hilst, no livro Cascos e Carícias
(16 de agosto de 1993)

Receitas antitédio carnavalesco

Hilda Hilst

"Pequenas sugestões e receitas de espanto antitédio para senhores e donas de casa duranet o carnaval.

I
Pegue um nabo. Coloque duas ou três palavras dentro dele, por exemplo: bastão, ouro, amplidão. Chacoalhe. Você não vai ouvir ruído algum. É normal. Aí ajoelhe-se com o nabo na mão e diga:

Com o bastão que me foi dado
Com o ouro que me foi tirado
E sem nenhuma amplidão
De conceitos e dados
Quero renascer brasileiro
E poeta.

Quem te ouvir vai ficar besta.

II
Colha um pé de couve e dois repolhos. Embrulhe-os. Faça as malas e atravesse a fronteira. Tá na hora.

III
Pergunte ao seu filhinho se ele quer laranja descascada de tampinha ou de gomo. Se ele disser que quer laranja descascada de tampinha, diga que um menino bem educado sempre escolhe a se gomo. Se ele começar a chorar, chupe você a laranja. De tampinha, naturalmente.

IV
Enfeite a mesa com flores. Compre um peru. Feche as crianças no banheiro. Antes de começar a ceia, convide seu marido para dançar ao redor da mesa(não mexa com o peru). Inopinadamente pergunte se ele gosta de trufas. Se ele disser que sim, gargalhe algum tempo atrás da porta e diga que "trufas não tem não, amorzinho".

V
Compre manteiga. PAsse-a nos dedos (esqeuça maarlon Brando). Chupe-os. E diga em tom de oração: que vida solitária, meu DEus! (Contenha-se)"


e por aí vai...

16.7.08

12.7.08

Das coisas que tem me tocado

Cais

Para quem quer se soltar invento o cais

Invento mais que a solidão me dá

Invento lua nova a clarear

Invento o amor e sei a dor de me lançar

Eu queria ser feliz

Invento o mar

Invento em mim o sonhador

Para quem quer me seguir eu quero mais

Tenho o caminho do que sempre quis

E um saveiro pronto pra partir

Invento o cais

E sei a vez de me lançar

(Milton Nascimento e Ronaldo Bastos)


7.7.08

Consolo?

"O trabalho está desorganizado, muito ruim, muito confuso.
Material eu tenho e em abundâcia.
O que me falta é o tino da composição, o verdadeiro trabalho.
Minha tendência seria a de pensar apenas e não trabalhar nada.
Mas isso não é possível.
O trabalho de compor é o pior.
Eu mesma vivo me levantando e caindo de novo e me levantando.
Não sei qual é o bem disso, sei que é essa forma confusa de vida que vivo. Uma pessoa que quisesse tomar minha direção seria bem vinda...
Eu nunca sei se quero descansar porque estou realmente cansada,
ou se quero descansar para desistir."

Clarice Lispector